3 de jun. de 2011

Pescadores enfrentam a ira de Yemanjá?

Casa do Peso, onde funciona a colônia de pescadores. Foto: Gabriel Fagundes
A ira dos deuses já serviu de roteiro para muitos livros, músicas e até filmes, como na versão contemporânea da lenda A Odisséia, de Homero, narrando a história de Odisseu, que lutou contra Poseidon em seu retorno à cidade natal, após a guerra de Tróia. O deus do mar descontou toda sua ira em represália por Odisseu ter furado os olhos do Cíclope Polifemo, que era seu filho. Estariam os pescadores do Rio Vermelho passando por tribulações e dificuldades por terem “ofendido” Yemanjá, a orixá das águas, segundo o candomblé?

Todo o ano, a colônia de pescadores oferece um grande presente à rainha das águas para que ela possa acalmar o mar e trazer boas pescarias. Este ano, o presente principal não foi entregue, sendo substituído por uma peça antiga do acervo.

Maré revolta reduz a faixa de areia e preocupa os pescadores desde março.
Foto: Gabriel Fagundes
O original seria uma concha de dois metros de altura, com uma pérola de 50 cm de diâmetro, que seria produzida por um artista plástico paulista de prenome Ricardo. Mesmo tendo firmado um acordo registrado em cartório, o artista não conseguiu produzir a escultura. Seria esta a causa da suposta a ira da deusa do mar sobre a colônia?

TEMPOS DIFÍCEIS – Após a festa em homenagem a orixá, no dia 2 de fevereiro, vários pescadores começaram a reclamar da escassez de peixe e de como o mar estava revolto. Alguns começaram a pensar em castigo de Yemanjá e estavam cada vez mais cuidadosos ao sair para pescar, como é o caso de José dos Santos, 46. “Depois da festa, ficou um clima pesado no ar, não se pegava mais peixe, o mar estava bravo, mas todo mundo pensou que era a maré de março” explica ele.

A onda de azar teve o seu ponto alto no dia 26 de abril, quando a colônia foi arrombada. Os assaltantes levaram o cofre principal, com cerca de um metro de altura, para a praia e saquearam todo o dinheiro dos contribuintes. A escultura da orixá, que estava em cima do cofre, não sofreu nenhum dano.

CONSULTA A TERREIROS - Segundo o presidente da Colônia de pescadores do Rio Vermelho, Marcos Santos Souza, a oferenda foi substituída por uma imagem de Yemanjá, com baús cheios de jóias e as “obrigações” do ano foram cumpridas. Mas o pescador não descarta a hipótese de processar o artista pelo não cumprimento do acordo. “Ele [Ricardo] foi negligente e agiu de má fé, mas conseguimos entregar o presente. Não foi o que imaginamos, mas ela foi homenageada” explica Marcos.

Segundo o pescador, medidas judiciais serão tomadas para reaver o valor pago pela obra, que ficou em torno de R$ 6 mil. Marcos fez questão de afirmar que não existe nenhuma ira de Yemanjá. Ele atribuiu as más pescas à maré de março, e o assalto, à insegurança e falta de policiamento que toma conta do Rio Vermelho.

“Não há ira de Yemanjá, o povo fica inventando história. São fatos isolados que coincidem, mas isso não existe. Até consultamos alguns terreiros para saber se deveríamos entregar outro presente, mas eles nos aconselharam a esperar para dar um melhor no próximo ano. O que está feito tá feito” explica ele.

Ensaio fotográfico de Filipe Brandão, sobre a Colônia de Pescadores Z1

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