13 de jun. de 2011

França: de pedreiro a empresário

Um bar discreto, com mesas na calçada, dividido em dois ambientes. Um deles é climatizado, o outro é a área externa, preferida por músicos, artistas plásticos, atores, jornalistas, universitários e professores quase sempre estão por lá. Entre um gole de cerveja e uma garfada de petisco, todos que vão ao Boteco do França acabam conhecendo os donos do lugar, reconhecido por muitos como um requintado restaurante.

França é o sobrenome de um dos proprietários, seu Antônio, um ex-garçom que depois de 27 anos de profissão resolveu abrir o próprio negócio, contando com a ajuda do amigo e sócio José Raimundo. Por conta de suas piadas e do jeito próprio de atender aos clientes, França virou uma das figuras singulares do bairro. Confira no vídeo.


Um empresário que já bateu concreto, 
vendeu cachorro quente e segurou bandeja

Na terra dos frutos do mar, em Maragojipe, Antônio França, 59, foi abandonado pelo pai quando criança. Na tentativa de conseguir uma vida melhor fugiu do interior para a capital. Ele ainda era um adolescente, mas já batalhava para sustentar a mãe e os irmãos.

Em Salvador, França conseguiu trabalho em construções. “Foi uma época muito difícil, batia concreto, me aquecia nas obras com saco de cimento, muitas vezes dormia e acordava com fome, passava o dia sem nada para comer”, relembra. Depois ele trabalhou como vendedor de cachorro quente e balconista, até conhecer a profissão que mudaria a sua vida: garçom. A primeira oportunidade apareceu no Yacht Clube da Bahia, onde também foi ajudante de cozinha e cozinheiro. Nesse trabalho, passou 12 anos.

Aquele menino pobre e tímido do interior cresceu, ganhou experiência, clientes e grandes amigos. A vida era outra. Conversava, contava piadas nas mesas e também brigava com os chefes. “Eu dizia aos patrões: um dia vou ser dono de bar e mostrar como se deve tratar os funcionários e os freqüentadores daqui”, conta.

Boteco do França
No ano de 1984, França realizou o sonho de abrir o próprio restaurante. Mais uma fase difícil, principalmente pelo pouco estudo. “Eu não estudei nada, meu sócio pelo menos fez o segundo grau, mas a gente pecava por falta de conhecimento”, relembra. A  primeira mulher, Inês da Cruz Vieira, foi uma das pessoas que mais o incentivou, "deu aquela força". O que ele não esperava era que um câncer a vencesse um ano depois da inauguração do bar. “Sofri muito com a perda de minha mulher, mas a vida continua”, comenta o empresário.

Antes casar, França teve dois filhos. No primeiro casamento, vieram mais três filhas. Depois que a esposa morreu, passados três anos, ele casou com Vânia. Moram juntos há seis anos e vai fazer pouco mais de um ano que a caçula Isadora nasceu. Três dos seis filhos ainda moram com ele, França já é avô e tem um neto de 8 anos.

Ele conta que até mesmo como dono de bar já recebeu críticas dos clientes e sofreu muito com humilhações como: “você vai voltar para a bandeja”. A resposta vinha imediata: “com muito orgulho”. França acredita que como patrão trabalha mais do que na época de funcionário, quase não tem folga, nem férias. Mas para quem já bateu concreto, pegar no pesado não é nada demais.

Como um bom ex-garçom, ele não abre mão daquele ditado: “o cliente sempre tem razão”. Nada como carinho, respeito e atenção para agradar o freguês, seja ele quem for.

No Boteco do França, uma das únicas coisas que não tem é “hora para fechar”. Enquanto houver cliente bebendo a "saideira", lá está França, de mesa em mesa, a falar da vida, do mundo e de tudo mais que dê vontade...

Um comentário:

  1. Muito boa a matéria, Marcela! O França é um cara muito legal, mesmo não sendo político, rsrs!

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